Opinião

Publicado: Quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Patrícia Ribeiro opina sobre o sexo tecnológico

Crédito: Arquivo Pessoal Patrícia Ribeiro opina sobre o sexo tecnológico
"Encontramos um novo tipo de relacionamento humano: o homem que, além dos relacionamentos tradicionais, se relaciona com o outro mediado por um computador"
O mundo conectou-se à Internet. A tecnologia encurtou distâncias e facilitou a vida de muitos. Os relacionamentos virtuais surgem como conseqüência, configurando um novo modelo de comportamento. As máscaras sociais são associadas neste universo no momento em que o individuo se conecta a rede, pois no decorrer da vida assumimos, progressivamente, papéis sociais, ou em outras palavras, os vários personagens que adquire-se no convívio social. Certamente essas máscaras sociais fazem parte do dia a dia social.
 
Ao nascer deste novo século, encontramos um novo tipo de relacionamento humano: o homem que, além dos relacionamentos tradicionais, se relaciona com o outro mediado por um computador. Não podemos deixar de dizer que esse mesmo homem que nasce neste novo século, comunica-se, interage com o outro. Examinando o Sexo Virtual e suas ferramentas de comunicação e interação, próprias da mídia internet, acabamos por examinar nossa própria sexualidade, e chegamos a um ponto irreversível sobre sexo. O sexo tecnológico existe e faz parte do universo de milhões de pessoas, não podemos mais negar essa realidade. A tecnologia altera a forma de comunicação entre emissor, receptor, emissor. A mensagem circula entre as multimídias e já não é mais possível delimitar a direção que atingirá. Hoje a linearidade entre um emissor e um receptor é quebrada, pois a mensagem passa a circular entre as mídias e a mídia passa a ser o corpo do vínculo na comunicação social.
 
Só há comunicação se houver vinculo, e o que da materialidade ao vinculo é a mídia. A mídia materializa a mensagem. É ela quem estabelece o vínculo com todos os usuários, com todos os seres humanos. A magnitude do desejo sexual surge espontaneamente, por sua própria vontade, no momento em que palavras, sons e imagens são trocadas na mídia on-line.
 
Percebemos a revolução sexual que ocorre no ambiente virtual tendo como base a comunicação. Para se fazer sexo nos dias atuais não precisamos do contato do corpo. Vivemos uma nova era do sexo e dos sexos.
 
A comunicação desse salão de baile que é a Internet acontece através de sons, imagens e palavras e por isso os sentidos mais despertados na hora da conversa é o tato, o tocar o outro por meio do teclado; o som não apenas das músicas que circulam na mídia, mas as palavras que quando enviadas para o outro deixam de ser lidas e sim ouvidas e a visão, imagens e símbolos que circulam o tempo todo através das ferramentas de comunicação.
 
Os nicks names ou apelidos usados para se conectar nestas salas, são os responsáveis pela identificação nos chats. O nicks são as máscaras que cada internauta coloca ou retira no momento que se conecta em uma sala de bate-papo. O usuário é livre para apresentar a imagem que quiser de si mesmo, seja ela legitima ou imaginária.
 
Nestas salas encontramos todo tipo de gente, que protegidas pelo anonimato, comportam-se muitas vezes diferente da vida real. São pessoas que naquele momento podem ser autênticas sem se preocupar com as conseqüências ou assumir outra personalidade, simplesmente por decidirem que naquele momento querem vestir suas máscaras.
 
Desta forma, podemos dizer que uma nova cultura se constrói a cada instante que mensagens são trocadas, em tempo real, ou não. Como mágicos, seres humanos se conectam a um mundo sem fronteiras, sem limites, onde cada um é cada um, e ao mesmo tempo ninguém é ninguém.
 
Neste caso é fundamental ressaltar que para o sexo acontecer no espaço virtual, não é necessário o corpo materializado, o toque das mãos, a pele, o sabor e o encontro de corpos para que o individuo sinta prazer. Podemos sentir prazer apesar da ausência do corpo, levando-os a reconhecer o desejo e o imaginário como fonte de prazer de todo esse universo virtual.
 
A sedução, a fantasia criada e vivida no universo virtual chega por palavras escritas e mexem com os sentidos não só do receptor, mas do emissor desconhecido. O fascínio que é criado pelo meio vai além do que se pode imaginar ou alcançar, pois todos os sonhos podem ser vividos através da fantasias e do jogo de sedução. A máscara neste caso é o computador que intermedia a conversa dos amantes. Não se sabe quem é, é estar diante de uma incógnita para ser desvendada, o mistério da sedução on-line está neste fator.
 
O individuo está trocando o convívio social real para o convívio social virtual. Confirmamos até aqui o uso de diversas ferramentas de comunicação desse novo canal, com grande poder de atração. A quebra de noção de tempo e espaço é um dos fatores que percebemos ser primordial dessa mídia. A Internet é acessível 24 horas ao dia, e leva o usuário a qualquer lugar do mundo. A interatividade imediata nessa comunicação é outro fator relevante que cada dia mais se atualiza com as novas tecnologias.
 
Desta assimilação tecnológica nasce essa nova cultura chamada cibercultura e conseqüentemente a cultura do sexo virtual. O cotidiano real é o salão de baile onde se desenvolve de uma maneira se não nova, mas singular a relação entre essas pessoas, que comunicam sua sexualidade, seu desejo e seu sexo mediado pela tecnologia.
 
O sentir com as mãos não é mais necessário. Os corpos se entendem, sem que se toquem. No momento do sexo tudo é corpo “imaginário”. A fantasia, o desejo que aflora pelos pensamentos e poros. O corpo não materializado, mas fantasiado desperta sensações que dominam, sem que seja necessário nenhum toque no corpo real. O desejo aflora e o ser passa a se conhecer, pois vai até seus limites até então sonhados. Passa a sentir se em outro mundo, anulando por completo todo preconceito e vergonha. Chega aos seus limites por meio do desejo, aprendendo assim a dominar a alma, e a dominar o corpo.

Patrícia Ribeiro é jornalista com mestrado em comunicação digital.
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